O Plagiário

Plágio: (...) apresentação feita por alguém, como da sua autoria, de trabalho, obra intelectual etc. produzido por outrém. In: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Correspondência para: just.salomao@gmail.com

26 outubro 2005

Um caso de «auto-plágio»

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Há coisas a que não ligo. Há outras que não suscitam o meu interesse. Mas raramente há coisas que me são indiferentes. Às que não suscitam o meu interesse, geralmente, não ligo. Mas há quem faça exactamente o oposto. As coisas que consideram desinteressantes suscitam-lhes um certo fascínio e, vai daí, passam a ser objectos que de tão abjectos se tornam no centro da curiosidade. Penso que terá sido o que se passou com João Pedro George que, no seu blogue Esplanar, se dedicou de corpo e alma a toda a obra publicada por Margarida Rebelo Pinto (MRP), a saber, cinco romances: Sei Lá; Não Há Coincidências; Alma de Pássaro; I’m in Love with a Pop Star; Pessoas Como Nós; e «três colectâneas de crónicas e minificções publicadas em jornais e revistas»: As crónicas da Margarida; Artista de Circo e Nazarenas & Matrioskas.

O que resultou desta análise meticulosa, dedicada, corajosa e científica foi uma crítica literária inexcedível. A conclusão é que a tão propagada crítica à repetição de MRP se confirma plenamente e com contornos escandalosos de «auto-plágio».

Deste trabalho de João Pedro George, destaco três pequenas partes.

[1] «Margarida Rebelo Pinto repete-se imoderadamente, copia frases de uns para outros livros, utiliza por vezes citações de escritores sem lhes atribuir a origem, tem deslizes de ortografia e comete erros gramaticais, as personagens, as situações, os temas e a estrutura narrativa são sempre os mesmos, as vidas que relata são homogéneas e monótonas, há incongruências catastróficas no vocabulário dos narradores, retirando-lhes toda a credibilidade, as representações dos homens e das mulheres são padronizadas, estereotipadas e simplistas, a escrita toca as raias do mau gosto e do anedótico, o estilo é uniforme e preguiçoso. Tudo considerado, livros deploráveis, falhados e vulgares.»

[2] Exemplo de «auto-plágio» de diferentes livros
Em As crónicas da Margarida, na página 143: «E, como diz António Lobo Antunes, quando um coração se fecha, faz muito mais barulho do que uma porta». Em Não Há Coincidências, na página 242: «O António Lobo Antunes diz que o coração quando se fecha faz muito mais barulho do que uma porta». Em Artista de Circo, na página 147: «Quando um coração se fecha faz muito mais barulho do que uma porta, diz o António Lobo Antunes».

[3] Exemplo de «auto-plágio» no interior do mesmo livro
Em Não Há Coincidências, na página 22: «Saio de casa ainda é noite cerrada. O portão abre-se silenciosamente, cúmplice nas minhas saídas madrugadoras e regressos tardios». Mais à frente, na página 132: «Saio de casa ainda é noite cerrada. O portão abre-se silenciosamente, cúmplice nas minhas saídas madrugadoras e regressos tardios».

Estas e outras pérolas podem ser consultadas aqui, no post «Couves & Alforrecas» de 03 de Outubro.